
O profissional que trabalha com violência sexual infantil
O abuso sexual infanto-juvenil é um problema mundial e histórico que infelizmente tem tomado lugar de preocupação das políticas públicas somente nas últimas décadas. Tilman Furniss, médico psiquiatra de crianças e adolescentes alemão, tem uma vasta experiência no campo de atuação de abuso sexual e incesto familiar. Ele escreveu um manual único, que serve como guia de atuação profissional nesta área tão complexa. O autor defende que os profissionais que realizam o atendimento e o acompanhamento dos casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes, inicialmente devem ter consciência de que esta é uma questão complexa que precisa ser compreendida a partir de diferentes pontos de vista, dentre eles o sociológico, antropológico, político, normativo e clínico. Furniss ressalta ainda o quanto é difícil para os profissionais trabalharem com esta demanda, já que este é um campo repleto de complexidade e conflitos tanto pessoais como profissionais. Por isso é necessário que haja uma capacidade de lidar pessoalmente com questões referentes ao abuso sexual, o conhecimento e habilidades profissionais, e recurso, estrutura e ambiente propício para o atendimento.
É preciso que sejam tratadas questões como o segredo, o medo da criança de não ser acreditada, o medo das ameaças caso haja revelação do abuso, a ansiedade em relação às consequências da revelação para a criança e família, o medo da punição e rejeição pela família e profissionais, e também dar licença explícita para comunicar o abuso sexual em linguagem sexual, esta, introduzida pelo profissional. Para isso, neste caso o psicólogo, pode usar técnicas como o uso da 3ª pessoa ou estória de outra criança, com o objetivo de nomear, criar e manter a realidade.
Este é um trabalho extremamente desafiador e complexo, por isso podemos observar que muitos profissionais ainda estão atuando de maneira limitada. Alguns psicólogos podem se valer de teorias e acabar por não ter um olhar global do indivíduo. Outros podem ficar aflitos e apenar atuarem mecanicamente sem o envolvimento necessário para cuidar de uma questão tão difícil como o abuso e incesto sexual de vulnerável. É preciso que o trabalho seja feito considerando contextos na abordagem dos processos violentos e também extrapolar os olhares e saberes fragmentados, uma vez que a questão é atravessada por diversas imediaticidades, exige-se que os profissionais compreendam se tratar de um fenômeno que envolve múltiplas determinações nem sempre tão aparentes ou perceptíveis, dentre as quais é possível assinalar a vulnerabilidade socioeconômica e cultural que se faz presente na maior parte do contexto das vítimas e suas famílias. Por isso, assim como em qualquer caso que seja feito o cuidado emocional de um indivíduo, é preciso empatia, sensibilidade, autopercepção e cuidado do cuidador.
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